sexta-feira, 6 de setembro de 2013

IMPORTADO



IMPORTADO




Ralph J. Hofmann
Durante muitos anos o consumidor brasileiro, salvo indivíduos muito ricos, não conseguia consumir produtos importados. 
Havia algumas poucas exceções como vinhos chilenos ou argentinos. Fumo, cigarros, uísque e outros luxos que pouco representariam na balança de pagamentos pagavam imposto de importação escorchante.
Infelizmente o país, a partir de uma orientação do presidente Geisel também considerava luxo a importação de equipamentos industriais de ponta, “hardware” de informática. As Guias de Importação eram difíceis de serem obtidas e os impostos e outros entraves faziam com que uma máquina moderna acabasse custando mais de duas e meia vezes o valor na porta das fábrica do fabricante na Europa, Taiwan ou Japão.
Com isto nosso fornecedor primário de informática atualizada passou a ser o Paraguai. Sem ele teria sido impossível a implantação inicial de processos industriais como o CAD/CAM. Parece piada, mas temos uma dívida de gratidão com os comerciantes do Paraguai e os contrabandistas de eletrônicos. Foram vitais para a formação, nos anos 80 e 90, dos jovens criadores de “software” do Brasil. Sem eles teríamos ficado na mão “cartorial” de algumas poucas empresas que montavam equipamentos com dois anos de obsolescência.
O impacto disto era enorme. Por exemplo, um cliente de importação que viesse ao Brasil solicitar um custo e uma amostra de produto industrial a ser feito sob especificação poderia ter de esperar três meses para receber amostra e preço.  Em Taiwan ou na Coréia do Sul o mesmo cidadão chegava pela manhã e recebia amostra e cotação no dia seguinte. O processo no Brasil, além de moroso era caro. E não eram apenas os orientais que nos batiam. Naqueles anos Espanha e Portugal se tornaram grandes centros de execução de ferramentas para indústria a preços que nós, mesmo com salários de ferramenteiros extremamente baixos em comparação com os europeus, não conseguíamos acompanhar e com prazos curtíssimos comparados aos do Brasil.
Com o Brasil escorregando cada vez mais para uma crise, com desemprego disfarçado, com contração dos negócios, tendo entregue de mão beijada a experiência industrial, a criação de mercados para produtos brasileiros e o fundo de comércio junto aos clientes de manufaturados, não apenas aos chineses como até a certos países europeus que nunca deixaram de modernizar-se cabe perguntar se é possível resgatar as indústrias médias e pequenos do Brasil, que, se continuasse a política anterior a 2003 hoje representariam um enorme conjunto de exportações. (Este deve ser um raciocínio misterioso para ministros e técnicos PTistas mas meninos e meninas de nove anos podem compreendê-lo com facilidade).  
Hoje o mercado é de quem conheça marketing e saiba desenvolver uma marca, catálogo e rede de distribuição. A produção, que é de mão de obra intensiva, passou ao exterior. Nossos operários hoje são balconistas, lavadores de carro. Não há nem mesmo espaço para pessoas que consertem eletrodomésticos. O preço de substituir um aspirador de pó (de baixa qualidade comparado aos que fabricávamos no Brasil) é inferior ao trabalho de quem o conserte.
Esta naturalmente é uma tendência normal, o preço de aquisição é a chave das vendas, contudo devíamos estar jogando ao lixo reciclável aspiradores de pó “Made in Brazil” e não chineses.

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