Ralph J. Hofmann
Durante muitos anos o
consumidor brasileiro, salvo indivíduos muito ricos, não conseguia consumir
produtos importados.
Havia algumas poucas
exceções como vinhos chilenos ou argentinos. Fumo, cigarros, uísque e outros
luxos que pouco representariam na balança de pagamentos pagavam imposto de
importação escorchante.
Infelizmente o país, a
partir de uma orientação do presidente Geisel também considerava luxo a
importação de equipamentos industriais de ponta, “hardware” de informática. As
Guias de Importação eram difíceis de serem obtidas e os impostos e outros
entraves faziam com que uma máquina moderna acabasse custando mais de duas e
meia vezes o valor na porta das fábrica do fabricante na Europa, Taiwan ou
Japão.
Com isto nosso
fornecedor primário de informática atualizada passou a ser o Paraguai. Sem ele
teria sido impossível a implantação inicial de processos industriais como o
CAD/CAM. Parece piada, mas temos uma dívida de gratidão com os comerciantes do
Paraguai e os contrabandistas de eletrônicos. Foram vitais para a formação, nos
anos 80 e 90, dos jovens criadores de “software” do Brasil. Sem eles teríamos
ficado na mão “cartorial” de algumas poucas empresas que montavam equipamentos
com dois anos de obsolescência.
O impacto disto era
enorme. Por exemplo, um cliente de importação que viesse ao Brasil solicitar um
custo e uma amostra de produto industrial a ser feito sob especificação poderia
ter de esperar três meses para receber amostra e preço. Em Taiwan ou na Coréia do Sul o mesmo cidadão
chegava pela manhã e recebia amostra e cotação no dia seguinte. O processo no
Brasil, além de moroso era caro. E não eram apenas os orientais que nos batiam.
Naqueles anos Espanha e Portugal se tornaram grandes centros de execução de
ferramentas para indústria a preços que nós, mesmo com salários de
ferramenteiros extremamente baixos em comparação com os europeus, não
conseguíamos acompanhar e com prazos curtíssimos comparados aos do Brasil.
Com o Brasil
escorregando cada vez mais para uma crise, com desemprego disfarçado, com
contração dos negócios, tendo entregue de mão beijada a experiência industrial,
a criação de mercados para produtos brasileiros e o fundo de comércio junto aos
clientes de manufaturados, não apenas aos chineses como até a certos países
europeus que nunca deixaram de modernizar-se cabe perguntar se é possível
resgatar as indústrias médias e pequenos do Brasil, que, se continuasse a
política anterior a 2003 hoje representariam um enorme conjunto de exportações.
(Este deve ser um raciocínio misterioso para ministros e técnicos PTistas mas
meninos e meninas de nove anos podem compreendê-lo com facilidade).
Hoje o mercado é de
quem conheça marketing e saiba desenvolver uma marca, catálogo e rede de
distribuição. A produção, que é de mão de obra intensiva, passou ao exterior.
Nossos operários hoje são balconistas, lavadores de carro. Não há nem mesmo
espaço para pessoas que consertem eletrodomésticos. O preço de substituir um
aspirador de pó (de baixa qualidade comparado aos que fabricávamos no Brasil) é
inferior ao trabalho de quem o conserte.
Esta naturalmente é
uma tendência normal, o preço de aquisição é a chave das vendas, contudo
devíamos estar jogando ao lixo reciclável aspiradores de pó “Made in Brazil” e
não chineses.
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