quarta-feira, 23 de abril de 2014

A Vacina contra o HPV e educação sexual


Por Breno Rosostolato *

         O vírus HPV (Human Papiloma Vírus, ou papilomavírus humano) faz parte do grupo de doenças que são transmitidas sexualmente. Lesões que podem aparecer na pele e nas mucosas genitais (vulva, vagina, colo do útero e pênis), além de causar escoriações, o vírus do HPV está diretamente ligado ao desenvolvimento do segundo tipo de tumor que mais causa morte em mulheres no mudo, o câncer de colo do útero. Para se ter uma ideia, a doença fica atrás apenas do câncer de mama e faz mais de 250 mil vítimas por ano.

         O HPV possui mais de 100 variações, nos quais os mais perigosos estão os tipos 16 e 18, responsáveis por 70% dos casos de câncer de colo do útero. Além do ato sexual, o HPV pode ser transmitido através do toque com uma região afetada. Uma doença que acometem mulheres e homens. Estima-se que 60% dos homens com idade entre 18 e 70 anos tenham HPV no pênis, indo desde uma pequena verruga na região a uma contaminação em todo o órgão.

         Por conta disso, o Sistema único de Saúde (SUS) iniciou 10 de março deste ano um intensivo programa de vacinação oferecido para meninas de 11 a 13 anos. As vacinas serão aplicadas em postos de saúde e em escolas públicas e privadas de todo o país. A imunização ocorrerá em três doses. A segunda aplicação deve ser feita 6 meses depois da primeira e a terceira, 5 anos depois.

         O Ministério da Saúde possui como objetivos em 2015 oferecer a vacina para meninas de 9 a 11 anos e, a partir de 2016, a ação ficará restrita às meninas de 9 anos. A pretensão é que até 2016 seja imunizado 80% do total de 5,2 milhões de meninas de 9 a 13 anos no país. De acordo com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, essa faixa etária foi escolhida porque, nela, a produção de anticorpos contra o HPV tem maior eficácia, além do que, meninas nessa idade ainda não tiveram início da atividade sexual, que é quando estas mulheres estarão sob risco maior ao vírus.

         Quando o programa de vacinação foi anunciado pelo Ministério da Saúde, grupos religiosos mostraram indignação e protestaram, alegando que desta maneira as pré-adolescentes seriam estimuladas a iniciar a vida sexual precocemente.

         Outro aspecto também relevante é que a vacina não deve restringir às meninas, mas também aos meninos, pois sendo a transmissão, sexual, vacinar também os homens é lógico e coerente, levando-se em conta que poderão passar o vírus para suas parceiras e sofrer consequências do contágio. Esta preocupação faz com que não exista distinções entre os sexos. Esta conscientização já começa a ser aplicada em alguns países e também em cidades brasileiras, em que, meninos de 11 a 13 anos começaram a ser vacinados contra o HPV em Campos de Goytacazes (RJ), na cidade de Taboão da Serra (SP), que adotou a prevenção no ano passado, e em Farroupilha (RS), município pioneiro na imunização do sexo masculino.

         O intuito de iniciativas como estas se baseia na prevenção de doenças. A iniciação sexual acontecerá diante da vontade, autonomia e principalmente, do conhecimento que deve vir de casa, através do diálogo e orientação dos pais.

         Falar sobre sexo com o filho ainda é uma dificuldade para muitos pais. Resistência, vergonha, situações constrangedoras e falta de desenvoltura são alguns fatores que impossibilitam os adultos de abordar este assunto com os pequenos. Muitos pais, por conta da própria falta de uma educação sexual, de uma criação rígida e muito reprimida, não sabem como conversar e a importância deste acolhimento às crianças. A tendência dos pais é perpetuarem uma rigidez e conceitos do passado que deveriam ser desmistificados. Estas concepções sexuais se mantêm quase que intocáveis e criam raízes cada vez mais sedimentadas e petrificadas nas famílias e na sociedade. As crianças passam por fases e que vão favorecer no seu desenvolvimento psíquico e emocional. É importante os pais ficarem atentos a estas fases e abordarem questões sobre sexualidade que ajudem esta construção. 

         Sem apressar o ritmo dos filhos, os pais, aos poucos, podem explicar aspectos que possa ajudar a compreensão do pré-adolescente sobre a primeira relação sexual, gravidez, doenças sexualmente transmissíveis e primordialmente, métodos anti-concepcinais. Os pais devem dar espaço para o pré-adolescente e o diálogo deve ser constante, sem ser invasivo e agressivo. Os esforços devem seguir no sentido de orientar, mas principalmente, passar confiança e segurança. Acolher o filho não é sufocá-lo.

         Esta educação sexual, primeiramente, deve partir dos pais e a escola é uma extensão do ambiente familiar que abordará a sexualidade de maneira científica como aspecto fisiológico, o funcionamento e prevenção. Mas nada deve acontecer com pressa, exigências e cobranças. Neste sentido, o melhor é conversar com as meninas sobre a importância da vacina e compreender que a educação sexual previne doenças, mas é um gesto de amor em relação ao filho. A vacina vai prevenir ao câncer. Não existe qualquer desrespeito à crenças religiosas ou atacar a religiosidade de ninguém. Vale ressaltar que a vacina não deve substituir a camisinha nas relações sexuais, que previne de outras doenças sexualmente transmissíveis. Quanto à orientação para mulheres na faixa etária dos 25 aos 64 anos é que façam o exame preventivo, o Papanicolau, a cada três anos, após dois exames anuais consecutivos negativos.

         A sociedade está mudando significativamente e as mentalidades, pensamentos e opiniões das pessoas devem acompanhar este movimento. É necessário que pais e filhos estejam alinhados à estas mudanças e conversem sobre estas transformações sociais. As famílias, por exemplo, são as evidências destas metamorfoses. Reconsiderar antigas regras e rever conceitos sexuais é construtivo e enriquece o vínculo afetivo de pais e filhos.

         A iniciativa do Governo brasileiro foi elogiada e teve o reconhecimento em nota publicada no site da Organização Mundial da Saúde em que declara apoio à “decisão brasileira de propiciar gratuitamente a vacina às adolescentes, num marco integrado para a prevenção e o controle do câncer de colo do útero”.

* Breno Rosostolato é psicólogo e professor da Faculdade Santa Marcelina – FASM.

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