Por Breno Rosostolato *
O vírus HPV (Human Papiloma Vírus,
ou papilomavírus humano) faz parte do grupo de doenças que são
transmitidas sexualmente. Lesões que podem aparecer na pele e nas
mucosas genitais (vulva, vagina, colo do útero e pênis), além de causar
escoriações, o vírus do HPV está diretamente ligado ao desenvolvimento
do segundo tipo de tumor que mais causa morte em mulheres no mudo, o
câncer de colo do útero. Para se ter uma ideia, a doença fica atrás
apenas do câncer de mama e faz mais de 250 mil vítimas por ano.
O
HPV possui mais de 100 variações, nos quais os mais perigosos estão os
tipos 16 e 18, responsáveis por 70% dos casos de câncer de colo do
útero. Além do ato sexual, o HPV pode ser transmitido através do toque
com uma região afetada. Uma doença que acometem mulheres e homens. Estima-se
que 60% dos homens com idade entre 18 e 70 anos tenham HPV no pênis,
indo desde uma pequena verruga na região a uma contaminação em todo o
órgão.
Por conta disso, o Sistema único de Saúde (SUS) iniciou 10
de março deste ano um intensivo programa de vacinação oferecido para
meninas de 11 a 13 anos. As vacinas serão aplicadas em postos de saúde e
em escolas públicas e privadas de todo o país. A imunização ocorrerá em três doses. A segunda aplicação deve ser feita 6 meses depois da primeira e a terceira, 5 anos depois.
O
Ministério da Saúde possui como objetivos em 2015 oferecer a vacina
para meninas de 9 a 11 anos e, a partir de 2016, a ação ficará restrita
às meninas de 9 anos. A pretensão é que até 2016 seja imunizado 80% do
total de 5,2 milhões de meninas de 9 a 13 anos no país. De acordo com o
ministro da Saúde, Alexandre Padilha, essa faixa etária foi escolhida
porque, nela, a produção de anticorpos contra o HPV tem maior eficácia,
além do que, meninas nessa idade ainda não tiveram início da atividade
sexual, que é quando estas mulheres estarão sob risco maior ao vírus.
Quando o programa de vacinação foi anunciado pelo Ministério da Saúde, grupos
religiosos mostraram indignação e protestaram, alegando que desta
maneira as pré-adolescentes seriam estimuladas a iniciar a vida sexual
precocemente.
Outro aspecto também relevante é que a vacina não deve restringir às meninas, mas também aos meninos, pois sendo a transmissão,
sexual, vacinar também os homens é lógico e coerente, levando-se em
conta que poderão passar o vírus para suas parceiras e sofrer
consequências do contágio. Esta preocupação faz com que não exista
distinções entre os sexos. Esta conscientização já começa a ser aplicada
em alguns países e também em cidades brasileiras, em que, meninos de 11
a 13 anos começaram a ser vacinados contra o HPV em Campos de
Goytacazes (RJ), na cidade de Taboão da Serra (SP), que adotou a
prevenção no ano passado, e em Farroupilha (RS), município pioneiro na
imunização do sexo masculino.
O
intuito de iniciativas como estas se baseia na prevenção de doenças. A
iniciação sexual acontecerá diante da vontade, autonomia e
principalmente, do conhecimento que deve vir de casa, através do diálogo
e orientação dos pais.
Falar
sobre sexo com o filho ainda é uma dificuldade para muitos pais.
Resistência, vergonha, situações constrangedoras e falta de desenvoltura
são alguns fatores que impossibilitam os adultos de abordar este
assunto com os pequenos. Muitos pais, por conta da própria falta de uma
educação sexual, de uma criação rígida e muito reprimida, não sabem como
conversar e a importância deste acolhimento às crianças. A tendência
dos pais é perpetuarem uma rigidez e conceitos do passado que deveriam
ser desmistificados. Estas concepções sexuais se mantêm quase que
intocáveis e criam raízes cada vez mais sedimentadas e petrificadas nas
famílias e na sociedade. As crianças passam por fases e que vão
favorecer no seu desenvolvimento psíquico e emocional. É importante os
pais ficarem atentos a estas fases e abordarem questões sobre
sexualidade que ajudem esta construção.
Sem
apressar o ritmo dos filhos, os pais, aos poucos, podem explicar
aspectos que possa ajudar a compreensão do pré-adolescente sobre a
primeira relação sexual, gravidez, doenças sexualmente transmissíveis e
primordialmente, métodos anti-concepcinais. Os
pais devem dar espaço para o pré-adolescente e o diálogo deve ser
constante, sem ser invasivo e agressivo. Os esforços devem seguir no
sentido de orientar, mas principalmente, passar confiança e segurança.
Acolher o filho não é sufocá-lo.
Esta
educação sexual, primeiramente, deve partir dos pais e a escola é uma
extensão do ambiente familiar que abordará a sexualidade de maneira
científica como aspecto fisiológico, o funcionamento e prevenção. Mas
nada deve acontecer com pressa, exigências e cobranças. Neste sentido, o
melhor é conversar com as meninas sobre a importância da vacina e
compreender que a educação sexual previne doenças, mas é um gesto de
amor em relação ao filho. A vacina vai prevenir ao câncer. Não existe
qualquer desrespeito à crenças religiosas ou atacar a religiosidade de
ninguém. Vale ressaltar que a vacina não deve substituir a camisinha nas
relações sexuais, que previne de outras doenças sexualmente
transmissíveis. Quanto à orientação para mulheres na
faixa etária dos 25 aos 64 anos é que façam o exame preventivo, o
Papanicolau, a cada três anos, após dois exames anuais consecutivos
negativos.
A
sociedade está mudando significativamente e as mentalidades,
pensamentos e opiniões das pessoas devem acompanhar este movimento. É
necessário que pais e filhos estejam alinhados à estas mudanças e
conversem sobre estas transformações sociais. As famílias, por exemplo,
são as evidências destas metamorfoses. Reconsiderar antigas regras e
rever conceitos sexuais é construtivo e enriquece o vínculo afetivo de
pais e filhos.
A
iniciativa do Governo brasileiro foi elogiada e teve o reconhecimento
em nota publicada no site da Organização Mundial da Saúde em que declara
apoio à “decisão brasileira de propiciar gratuitamente a vacina às
adolescentes, num marco integrado para a prevenção e o controle do
câncer de colo do útero”.
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