José Ricardo Roriz Coelho*
Os dois anos seguidos de baixo desempenho do PIB, os sintomas de
pressão inflacionária, a redução do ritmo de criação de empregos e os
péssimos resultados da balança comercial, dentre outros indicadores,
constituem um sinal de alerta quanto à necessidade de se fazer profunda
avaliação do Brasil. Depois de um fluxo positivo de crescimento, de um
processo de inclusão socioeconômica mundialmente reconhecido e do
enfrentamento com sucesso da grande crise internacional desencadeada em
2008, é chegada a hora de iniciarmos um novo ciclo de expansão, e
precisamos definir uma estratégia para que isto aconteça.
Não
podemos continuar condenados a não crescer. Sem investimentos, é
impossível melhorar a infraestrutura e aumentar a oferta de produtos e
serviços que incorporem inovação e tecnologia. Com o governo gastando
mal e muito, não temos como baixar os juros, e não é mais possível
tolerar a péssima qualidade dos serviços públicos e a precariedade da
educação, saúde e segurança. Se não incentivarmos os jovens e os que
podem trabalhar, mas se acomodaram com programas sociais, não teremos
recursos humanos capacitados, tão necessários para suportar nosso
crescimento.
Todos
esses desafios também são dificultados pela enorme burocracia, que
inferniza a vida das pessoas e das empresas e aumenta o custo de tudo o
que fazemos, eliminando boa parte dos ganhos de renda da última década.
Inflação não se combate só com aumento de juros, mas principalmente com
eficiência e produtividade e seus reflexos produtivos no equilíbrio
entre oferta e demanda, com produtos inovadores e de baixo custo.
É
preocupante observar a inexistência de um plano para mudar a presente
conjuntura. Parecem faltar objetivos e ambição ao País. Aonde estamos
indo? Quais são as nossas métricas para que a sociedade possa medir os
avanços e cobrar os resultados? Qual é o futuro de nação que projetamos
para despertar o ânimo dos jovens empreendedores e dos empresários que
querem investir?
Nada mais oportuno para responder a essas questões do que um ano
eleitoral como este 2014, quando elegeremos deputados estaduais e
federais, senadores, governadores e o presidente da República. Todos os
ocupantes de cargos eletivos têm imensa responsabilidade perante a
Nação. O equilíbrio fiscal, por exemplo, fator condicionante à execução
de uma política consistente de queda dos juros sem risco de inflação
depende de todas as instâncias governamentais. O mesmo se aplica à
racionalização dos tributos e aos investimentos em infraestrutura (há
muitas obras importantes, como metrô e estradas, de competência
estadual).
No tocante aos deputados federais e senadores, é direta a sua
responsabilidade quanto às reformas estruturais, que seguem estagnadas
há quase três décadas. É necessário que reafirmem a autonomia e
significado do Poder Legislativo, contribuindo para que o País tenha um
arcabouço legal mais compatível com os padrões de competitividade
contemporâneos. Ao Executivo Federal cabe reduzir gastos supérfluos,
ampliar os investimentos públicos, fazer decolar de modo amplo programas
como as parcerias público-privadas, realizar uma política monetária
(juros e câmbio) adequada a estimular a economia, bem como agir em
sinergia com o Parlamento em favor da modernização das leis. Além disso,
não podemos mais adiar a melhora de qualidade dos serviços públicos!
Missão prioritária é resgatar a capacidade concorrencial da indústria.
Estudo do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp aponta
que, dentre as nações mais relevantes em termos de renda, produção e
número de habitantes, todas as que conseguiram alcançar o
desenvolvimento apresentaram, no mínimo, 20% de participação da
manufatura no PIB. Aqui, esse índice era de apenas 13% em 2012. No
entanto, o “Custo Brasil” (composto por carga tributária,
burocracia, capital de giro, energia/matéria-prima e
infraestrutura/logística), somado a uma política monetária dissociada da
realidade global, continua sendo um obstáculo à reindustrialização.
Fabricar aqui é no mínimo 34,2% mais caro do que nos países com os quais
concorremos.
É imprescindível que todos esses temas estejam presentes no debate
eleitoral de 2014. Independentemente de quem vença as eleições à
Presidência da República, governos estaduais e assembleias legislativas,
Senado e Câmara dos Deputados, é crucial que os eleitos, sem ferir sua
identidade partidária e seus compromissos políticos republicanos, pensem
de modo prioritário no País, inserindo o poder público num processo
coeso voltado à solução dos problemas nacionais e à expansão mais
consistente do PIB. Não nos falta imenso potencial para crescer, mas é
necessária uma estratégia de longo prazo, capaz de promover o
desenvolvimento econômico e social.
*José
Ricardo Roriz Coelho é presidente da Associação Brasileira da Indústria
do Plástico (Abiplast) e do Sindicato da Indústria de Material Plástico
do Estado de São Paulo (Sindiplast-SP), vice-presidente e diretor do
Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp.
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