Democracia
no Poder Judiciário
* Rossidélio Lopes da
Fonte
Quem garante o Estado Democrático de
Direito é o juiz. É ele quem assegura o respeito das liberdades civis.
Entretanto, em sua própria casa, o juiz de primeira instância não pode exercer a
democracia. Nos Tribunais de Justiça brasileiros somente os desembargadores têm
a permissão de escolher quem governará o Judiciário local – apenas 17% dos
magistrados nacionais. Os juízes, que são membros do mesmo Tribunal, não têm
direito a voto para os cargos de direção, o que provoca uma grande deformidade,
em que são criados dois Judiciários diferentes.
Hoje, por terem o direito ao voto, os
desembargadores têm maior poder de barganha que os juízes. E como em toda a
sociedade, aqueles que votam conseguem mais atenção dos candidatos do que
aqueles que não participam do processo eleitoral. A partir da democratização
interna do Judiciário, os juízes poderão mostrar a necessidade de se priorizar o
primeiro grau de jurisdição, onde há o contato direto com a sociedade. Com isso,
os juízes eleitores serão mais exigentes com os investimentos de estrutura do
primeiro grau, propiciando a melhora do dia a dia forense e dos serviços
prestados ao cidadão.
É completamente anacrônica a
limitação ao voto direto para a composição dos cargos diretivos nos Tribunais de
Justiça. Temos que dar voz aos juízes que atuam na atividade fim do Judiciário,
que é a prestação jurisdicional. A democratização é uma reivindicação dos juízes
de todo o Brasil, que fortalecerá o Poder Judiciário. Com a participação efetiva
dos juízes, todos serão ouvidos democraticamente e haverá a partilha de opiniões
para, ao final, ser tomada a melhor decisão.
O caminho para a democratização na
casa da Justiça requer mudanças nas legislações existentes. É necessário
atualizar a Lei Orgânica da Magistratura, para que se respeite o juiz de Direito
no Estado Republicano. A sociedade espera e, mais do que isso, exige que o
julgador de sua causa seja independente, tenha autonomia e isenção. A ninguém
interessa um juiz que não tenha essas prerrogativas para decidir qualquer
conflito de interesse que seja. Como imaginar uma democracia sem juízes dotados
de autonomia e independência?
O juiz é o agente político que
sustenta a segurança da sociedade dirimindo conflitos em todo o território
nacional. Somente um Judiciário forte garante a saúde do Estado Republicano e
uma democracia plena. Para que isso aconteça, é necessário democratizar de forma
imediata o processo eleitoral do próprio Judiciário.
* Rossidélio Lopes da Fonte é juiz
e presidente da Associação dos Magistrados do Estado do Rio de Janeiro
(AMAERJ)
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