Economia
de Mercado ou Capitalismo de Estado?
Aguinaldo Diniz
Filho*
Estudo inédito, intitulado Is China a Market or a Non-Market
Economy?, elaborado pelo Center For Global Trade and Investments da
EESP/FGV, a pedido da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de
Confecção), enfatiza que a nação asiática, a despeito da maneira como se
apresenta no mercado internacional, utiliza-se de práticas e de um modelo que a
mantêm muito distante de ser uma economia de mercado, condição que há tempos vem
pleiteando. Como essa distorção provoca graves danos ao comércio global,
entendemos que o Brasil, que teve a corajosa iniciativa de colocar em discussão
em Genebra a questão da guerra cambial, reúna todas as condições para propor a
abertura de um Working Party na Organização Mundial do Comércio
(OMC), em defesa da economia mundial, já profundamente abalada pela duradoura crise
desencadeada em 2008.
Por essa razão, encaminhamos o
relatório da Fundação Getúlio Vargas às autoridades do governo brasileiro. Para se entender melhor toda
essa questão, é importante lembrar que, em 11 de dezembro de 2001, a China
tornou-se membro da OMC, assumindo o compromisso de transformar sua economia de
Estado em de mercado. Conforme o acordo, em 2016, 15 anos após sua adesão,
deverá ter concluído as reformas de seu sistema econômico que, naquele momento,
terá de estar operando em sua plenitude nos moldes do que podemos chamar de
capitalismo civilizado.
No entanto, o
estudo demonstra cabalmente que Pequim paralisou há cerca de cinco anos as
medidas que tornariam o país uma economia de mercado. Mais preocupante é o fato
de que, em alguns casos, verificaram-se retrocessos em relação a avanços
anteriormente observados. Sintomas claros
disso são a permanência de número elevado de grandes empresas estatais com
fortes vínculos com a cúpula dirigente do Estado em todos os seus níveis, a
manutenção de incontáveis subsídios proibidos e acionáveis perante a OMC e a
desvalorização artificial de sua moeda no mercado cambial. Ou seja, enquanto
continua a desfrutar do tratamento de Nação Mais Favorecida pelos membros da
OMC, a China segue adotando estratégias pouco identificadas com o capitalismo
democrático, que lhe propiciaram impressionante crescimento de suas exportações
e causam danos generalizados às indústrias dos países de legítima economia de
mercado.
Segundo dados da OMC e do
Banco Mundial, as exportações chinesas de produtos manufaturados saltaram de US$
237 bilhões, em 2001, para U$S 1,8 trilhão, em 2011. O fulminante movimento
também pode ser observado no setor têxtil e de confecção. Nesses segmentos, no
mesmo período, as exportações da China saíram de US$ 50 bilhões para US$ 241
bilhões, uma expansão de cinco vezes, em 10 anos. Para o Brasil, esse aumento
foi ainda mais expressivo. Em 2011, as importações brasileiras de origem chinesa
no setor têxtil e de confecção somaram US$ 3 bilhões, contra US$ 91 milhões em
2001, representando o expressivo crescimento de 32 vezes. Em 2012, nossas
importações atingiram US$ 3,3 bilhões, sendo US$ 1,5 bilhão correspondente ao
segmento de vestuário/confeccionados, que em 2001 somava US$ 64
milhões.
Portanto, é pertinente uma
avaliação pelos países membros da OMC, visando à implementação de medidas que
detenham o progressivo desmantelamento das empresas do mundo capitalista,
promovido pela economia de Estado dos chineses. Nesse sentido, um Working
Party certamente evidenciaria as práticas desleais e proporcionaria
uma reavaliação da legitimidade dos privilégios que o mundo concedeu à China ao
aceitá-la como membro daquela organização multilateral, confiante, à época, de
que os compromissos por ela assumidos seriam cumpridos.
O estudo da Fundação
Getúlio Vargas aborda com precisão factual o questionamento da China como
economia de mercado. O relato pormenorizado das distorções, mostrando as
violações à legislação da OMC, demonstra a inadequação dessas normas para tratar
de economias estatais. Assim, é fundamental reavaliar o status econômico de
Pequim e de outros países em situação similar. Afinal, a OMC foi criada para
preservar a saudável e necessária concorrência das nações e empresas
verdadeiramente alinhadas aos preceitos civilizados do comércio.
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