quarta-feira, 14 de maio de 2014

Amor excessivo pelos animais de estimação pode ser sintoma de carência do dono

Para a psicóloga Maria Aparecida das Neves, os animais domésticos precisam de carinho, cuidado e atenção, mas deve haver bom senso e equilíbrio
 
 
São Paulo, 13 de maio de 2014 – Certamente você já ouviu alguém se referir ao animal de estimação como “filho” e pode até não ter estranhado o fato. “Hoje em dia, muitos animais são como membros da família. Antigamente, lugar de cachorro era no quintal, mas com a criação de raças menores, essa realidade mudou”, detecta a psicóloga Maria Aparecida das Neves. Mas, para além de terem “entrado em casa”, muitos animais domésticos acabam, por vezes, substituindo o contato do dono com outras pessoas. Alguns casais, por exemplo, optam por ter um animal de estimação antes de ter filhos, para testar se saberão cuidar de um ser que depende deles. Para Aparecida, esta é uma escolha saudável e benéfica desde que, depois da chegada do bebê, não se abandone o animal – que pode viver mais de uma década de alguns casos. 

 
Mas, quando as pessoas acabam por se isolar por causa de seus animais de estimação, é preciso ficar atento. Muitas afirmam que não podem sair para se divertir, frequentar festas ou ir à casa de amigos pois seus animais de estimação não podem ficar sozinhos. Nesses casos, alerta a psicóloga, é preciso rever a relação com o animal e o que ela significa para o dono.

“Os bichos são domesticados, tornam-se companheiros, criam um vínculo afetivo e suprem uma carência dos donos. Um animal de estimação não fica magoado, não tem rancor. Por isso, eles voltam, abanando o rabo depois de levarem bronca. O problema é quando o dono toma esse retorno integral, essa relação de zero risco afetivo, como padrão”, diz a psicóloga.

Se o dono confia mais em animais que em pessoas, corre o risco de generalizar relações humanas e fazer com que elas sejam fadadas ao fracasso. “É um sintoma de carência”, define Aparecida. Ela diz que os animais podem, sim, ficar sozinhos, se forem condicionados a isso. “Os animais são domesticados, são os donos que educam e definem como eles devem se comportar, como se alimentar e onde fazer suas necessidades. Quando diz que o bicho não pode ficar sozinho, é o dono que está criando uma ilha de ilusão”, acredita.

Outro sintoma de que essa relação entre um ser humano e um bicho está passando dos limites é quando o dono já não entende que não pode levar um animal a um ambiente social. A psicóloga diz que é preciso entender e aceitar onde o bicho pode ou não ser levado. “É claro que a pessoa pode escolher frequentar cafés, hotéis e locais onde os bichos são permitidos – isso é uma relação saudável”, afirma.

A psicóloga acredita que, sempre que o trato de um animal de estimação estiver causando incômodo para outras pessoas, é preciso refletir a respeito. Ela dá como exemplo uma situação na qual uma pessoa visita a casa da outra e o animal que ali mora traz incômodo – latindo em demasia, mordendo, lambendo ou pulando. “Se o dono não fizer nada, o que pensar... O dono não é obrigado a prender o animal, mas a visita também não é obrigada a passar por uma situação que incomoda”, sugere.

Ela lembra que a chave para evitar problemas é o bom senso. “Não se pode privilegiar o bem-estar do animal – e vice-versa. É preciso avaliar o que é melhor para os dois. Excessos sempre trazem prejuízo, até mesmo excessos de amor”, acredita.
 

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